domingo, 20 de junho de 2010

Bharein com um cheirinho de cuba

O americano não parava de dizer bullshits e não havia meio de ir à casa de banho despejar a bexiga. Ela, que não era nada de especial, era especialmente maneirinha. Usava um perfume Chanel, talvez o Number One ou o Coco Mademoiselle, que lhe assentava muito bem na sua cor de pele de cor nenhuma. Eu estava a fim de lhe demonstrar o quanto percebia de perfumes com um toque de quem está ali apenas para fazer sala. Enquanto ouvia aquela conversa de totós, de olho na cubana do xilofone da banda que ao vivo actuava, deixei várias vezes apagar o cigarro Partarca, também ele importado da mesma terra de onde havia chegado tão vivo som. Chego à conclusão que gasto muito mais dinheiro em fósforos que em cigarros.
Eu respeito os americanos pela sua autoconfiança umbilical… A autoconfiança que nos falta a nós portugueses. Apagou-se-me o Partarca habana cuba uma vez mais. Falta de jeito.
Em meia hora consegui misturar uma calsberg com um mojito 5 fósforos e 2 cigarros e, já não estando em fase de ver onde paravam as modas, eis que o americano, nada amaricado, se decide a verter águas. Ora, meia hora foi tempo suficiente para apanhar o olhar da bonita morena da banda do xilofone. Não quis mais saber do perfume que a meu lado actuava volátil. Concentrei-me naquele universo moreno, activo, ingénuo, seguro de inseguro, puro como os partarcas, vivo, mantendo o rico compasso. Há mulheres que em poucos segundos se nos vislumbram como a representação mais fiel das propriedades do universo. Há nelas um ínfimo de todas as possibilidades, são o big freezing ou o big crunch porque é só nesses momentos a existência se manifesta(rá), são todas as teorias aplicadas na prática, a das cordas, a dos universos paralelos, a dos universos interceptados (esta teoria é minha e será explicada, um dia, mais à frente, ou atrás). A cubana do xilofone com mais qualquer coisa encerrava em si todas as coisas que se me concebiam naquele momento. Eu, que me apaixono basicamente todos os dias, dei por mim novamente apaixonado. Depois, claro, com a falta de autoconfiança que caracteriza alguns dos portugueses, não lhe deixei um bilhete onde dizia: If one day you want to make a revolution in your life just write me to this mail address. Não lhe deixei o tal bilhete porque pensei que usar da estratégia de revolução já não deve pegar para aqueles lados cubanos, e, quando assim é, com todas estas incertezas a atravessarem-se no meu caminho, nunca arrisco. Arisco, fui-me deitar num quarto alugado do mesmo hotel, sozinho, tentando-me impingir estas análises de custo-benefício como quem mente a uma criança com o conto do Pai Natal na chaminé.
http://www.youtube.com/watch?v=ECut4WYurXs 

quinta-feira, 10 de junho de 2010

f©tos


© Ultrapassar a velocidade do som, é?
Eu dizer “Abre a porta por favor”, acabando por ser eu a abrir a porta.

© Não aprecio árabes de espécie alguma. Há, no entanto, uma categoria que ultrapassa a classe do não apreciar para um nível que se encaixa no não gostar mesmo. É aquele espécime que usa rabo-de-cavalo no cimo traseiro da cabeça – haverá assim algum rabo-de-camelo?! – Calças brancas, um sapato de biqueira 5 tamanhos acima, uma camisa preta com riscas brancas para não destoar o ar de azeiteiro, aberta até ao ponto onde o estômago começa a crescer, 2 ou 3 anéis em polegares que servem apenas para assinar de impressão digital, um cinto que, sinto muito, mais parece um loquete de castidade e, depois, para rematar, aquelas contas de rezas mal cantadas a servirem de colar. Ah!... Não esquecer a pulseira de prata no direito e um relógio com um design da feira de Carcavelos no esquerdo, o pulso das solitárias diabruras. Há uns que rematam a obra com um brinco que mais parece o candeeiro da missa das 10 oferecido pela confraria do menino. Rais os partam! Não são ciganos. Não são coisa alguma. Lazy, stupid and rich, while the black hole keeps ejaculating.

© Quando se sai da Arábia Saudita para qualquer lugar encontramos sempre as mulheres mais bonitas do mundo. Acontece por exemplo quando entro em Portugal não tendo tempo de parar para almoçar em Frankfurt. As mulheres do Líbano, em Beirute mais especificamente, são mesmo bonitas, só me falta averiguar se são bonitas congénitas ou se esta minha percepção de beleza está também condicionada pelo movimento de saída da Arábia Saudita. 

domingo, 6 de junho de 2010

Pantera negra no aeroporto de Frankfurt


Ontem estive com o pantera negra no aeroporto em Frankfurt. Pode dizer-se que o pantera negra teve o prazer de conhecer o ovelha negra em Frankfurt.
Vi-o chegar de cadeira de rodas ao lounge da Lufthansa. A custo pós-se em pé e acabou por se sentar num sofá mesmo à minha frente. Quando a minha espera pelo próximo voo estava a finalizar, lembrei-me que ele poderia querer ler um jornal português. Se bem me lembrei melhor o fiz, levantei-me e dirigi-me a ele em português: Está tudo bem? Ele, quando se apercebeu que alguém lhe falava em português do norte, disse que sim que estava tudo bem e que estava a chegar de Toronto. Perguntei-lhe se estava com algum problema pois vi-o chegar de cadeira de rodas, ao que ele respondeu, que sim que estava, apenas o meu joelho, disse ele, não me ajuda muito e este aeroporto é grande. Tenho aqui o jornal de notícias que trouxe do porto, disse-lhe, quer ficar com ele? Sim, obrigado, dá para me entreter enquanto espero. Tenha uma boa viagem de regresso, terminei já de saída. Obrigado, respondeu. E lá fui eu orgulhoso do momento em que a pantera e a ovelha negra tiveram o prazer de trocarem umas palavras em português num aeroporto do mundo.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Alfândega II


Trago numa das malas, um fato Pierre Cardin novinho em folha, comprado em Riyadh com 85% desconto, que lá é mais batinas e burcas. 85% de desconto fazem dele, em termos de custos, um fato comprado na feira de Carcavelos, não fosse o facto de a senhora da alfândega, que no aeroporto do porto é uma pândega, ter reparado na etiqueta de composição: 70% algodão, 20% seda e 10% caxemira. Deve ser caro interroga como quem afirma, tentando encontrar a resposta na hesitação do meu olhar. Digo-lhe que não, que foi comprado nos saldos e tal. Abrindo ainda brechas naquela situação já de si fracturante, pede-me a factura. Mexo e remexo na desorganização da minha mala do computador com a minha memória a jurar que a tinha colocado no seu interior, mas, nada de nada. Tiro tudo fora, algumas canetas, outras facturas amarelas e a caírem de velho, alguns cabos USB e carregadores de telemóvel, um pequeno kit higiénico composto por desodorizante, pasta e escova de dentes e um pente que não uso, uma colher não vá ter que comer algum iogurte ou outra coisa mais doce, alguns toalhetes refrescantes, nada frescos, esquecidos num dos pequenos bolsos, uns preservativos velhos e secos, não usados, claro, como o atestado mais fino e assinado do totó que às vezes sou, e nada mais. A minha memória continuava a lembrar-me da factura que as minhas mãos ali dentro, algures, colocaram. E nada.
A senhora afirma que aquele fato era de facto menino para custar uns 700 euros. Dei uma gargalhada que aqui deveria descrever como um lol e disse-lhe que não senhora que me custou apenas uns 100 euros. Foi então a sua vez de gargalhar sem lol usando um sustenido ali algures entre um DO e um RE ou um FA e um SOL. Depois continuou a dar-me música dizendo que ou pagava já os impostos a estimar para o fato ou que poderia apresentar a factura depois. Optei pela apresentação da factura que entretanto apareceu na mala dos fatos. Tinha lógica, só a minha memória achou que não fazia lógica nenhuma colocar a factura junto com os fatos. Acabou por não ter piada nenhuma.