(Este texto está orgulhosamente desconforme com o novo Acordo Ortográfico)
100 anos depois de Vasco da Gama, Vasquinho para os amigos da altura, ter dobrado as tormentas mais o seu cabo sem se ter deixado enganar pela falsidade da baía falsa (False Bay) sul-africana, e, muito menos, deslumbrar pela Table Mountain ou a pela Lion’s Head, outros portugueses ali passaram vendo nessas montanhas outros bichos muito mais interessantes e imaginativos e visando outras localidades mais distantes, usando barcos movidos pelo vento. Foi, provavelmente, por serem tão bons na arte de velejar, com vento contra ou a favor, que não lhes foi possível antever que anos mais tarde, muitos anos mais tarde, debaixo daqueles solos de Oman apareceria um ouro de cor preta que hoje outros manipulam e especulam, a seu bel-prazer, arrastando-nos a todos para um poço sem fundo.
É emocionante imaginar o Tuga a entrar Muscat adentro com as armas e os barões assinalados e com um jogo especial de cintura, uma espécie de kong fu que se baseava muito mais na arte de comercializar do que de invadir e conquistar, tomar aquela terra que tem tanto de bonita como de estéril e começar a empresa de erigir tamanhas fortalezas, colorindo a região de um verde que só o Minho de Portugal e as suas gentes o podem reconhecer.
Muscat esteve durante 140 anos sobre o domínio português e isso nota-se. Nota-se na paisagem que os portugueses sempre a souberem escolher bela. Oman tem uma das mais bonitas paisagens de todo o médio Oriente por isso é que os nossos antepassados se decidiram a lá irem fazer história. Nota-se na forma como aqueles fortes de Muscat se unem umbilicalmente às pequenas colinas que descem quase despidas e agrestes para o mar e nos deixam adivinhar outras colinas de maior porte, lá a existirem para o interior, mais ou menos de um despido que seria erótico se não fosse provocado por um sol paterno rigoroso e um solo materno de um estéril arenoso. Nota-se, porque a uma paisagem assim, bela, faltava engenho português para a revestir de um verde Minho (sem álcool) e a colocar 3 patamares acima de tudo o resto ali à volta. Faltava ali a criatividade portuguesa, a tuga alquimia que transforma as coisas belas em deslumbrantes, note-se! Não me admiro nada se alguém vier a descobrir que a primeira palmeira foi ali escavada por um português. Não me admiro nadinha! Consigo ver as armadas portuguesas a passarem ao largo, como quem se vai embora sem interesse algum, e o cochicho interno sobre a potencialidade da zona emergir como um brainstorming sem grande algazarra ou tempestade, não duvido também que o conceito de brainstorming tenha surgido a bordo de uma destas estruturas portuguesas, Ora bem, diz o do leme, Aqui está uma terra fantástica para ancorar, enquanto aponta a proa para Muscat na zona mais profunda mas que ao mesmo tempo oferecesse a colina com menos desnível para ali entrar, não fosse a quilha sair quilhada do evento. Para ancorar não meu capitão, aquilo é terrinha para nos entretermos durante algum tempo, só quase precisamos de “cobrir” de verde, tudo o resto parece já ali estar, ajustou o que se encontrava dependurado no mastro.
E assim foi...
Se Beirute nos toma pelos sentidos, Muscat toma-nos pelo pensamento que é feito com memória, como um acumular de dados cuja existência só se manifesta no passado. Assim, com alguma propriedade, podemos dizer que Muscat nos toma pela sua história. Quem diz Muscat, pode mais genericamente dizer Oman, pois todo o país é composto por estruturas que nos trazem à memória os feitos os defeitos e os efeitos do passado.