Em viagem, desta vez com a Swiss air, de Genebra para Madrid, onde se falava maioritariamente francês, espanhol, alemão, e inglês, provavelmente pela mesma ordem de importância, tive a oportunidade de avaliar, ou pelo menos pensava eu, e de calibrar, mais uma vez, qual a visão que os outros têm de mim, qual a minha aparência para as outras pessoas, enfim, por quem os outros me tomam, se é que alguém tome alguma vez alguém. Enquanto nos voos da Lufthansa é normal as hospedeiras e os comissários de bordo, e, já agora, julgo oportuno deixar bem claro que não entendo esta descriminação, pois enquanto Comissário de Bordo dá ares de corpo militar ou diplomático, hospedeira só me faz lembrar as gripes e todas as outras doenças que como os piolhos e as lêndeas precisam de um corpo, ou, mais genericamente conhecido, de um hospedeiro, para se propagarem, não entendo, dizia, esta mais que evidente descriminação sexual, que vou deixar passar em branco por agora pois será pano para muitas mandas numa outra altura mais apropriada, então, o que eu estava mesmo a dizer era que os assistentes de bordo da Lufthansa se dirigem a mim, normalmente, em alemão, o que não deixa de ser normal uma vez que viajo de Portugal para a Alemanha, ou vice-versa, e então o facto não indicia que eu pareço ao olhos das outras pessoas um alemão. Quando se me dirigem em inglês, também não significa grande coisa, isto é, não faz se mim um britânico ou um americano, pois, normalmente, os assistentes de bordo da Lufthansa não falam português e então o segundo idioma que lhes está na ponta da língua é o inglês. Mesmo que eu fosse muito português, fisionomicamente, não queria ainda assim dizer que eles fizessem de mim um português só porque que se dirigiram na língua oficial mundial. Lembro-me agora que no brasil as hospedeiras se chamam de aeromoças, que lhes dá um ar de cabeça no ar mas que ainda assim é bem melhor do que de corpo hospedeiro. Então, este voo da swiss air, pensava eu, iria tirar a limpo qual a imagem que passo para o mundo. Como vinha de Genebra tentaram a interacção em francês que não resultou muito bem pois eu respondi em inglês, ao que eles, talvez para demonstrarem que também eram capazes, continuaram em espanhol, ao que eu continuei a responder em inglês. Por fim, lá ficou determinado que o nosso voo, pelo menos o que ao meu espaço dizia respeito, seria todo ditado em inglês. Ora, a grande espectativa criada a princípio, para esclarecer o assunto “por quem as pessoas me tomam” foi logo pela água abaixo. Ou seja quando viajo da Suíça para Espanha, tanto passo por um suíço como por um espanhol, e vá lá o diabo e escolha, da mesma forma que quando viajo da Alemanha para Portugal tanto posso ser alemão como português. Há poucas coisas melhores no mundo do que esta leveza de não sermos nem muito salgados nem muito insossos.
Termino como Antonio Gedeão: Minha aldeia é todo o mundo.
Todo o mundo me pertence.
Aqui me encontro e confundo
com gente de todo o mundo
que a todo o mundo pertence.
9 comentários:
Bem... eu até nem queria mas lá vou ter que acabar com o teu próximo tema que iria dar pano para mangas.
Agora já não é hospedeira que se diz e sim assistente de bordo!
E gostei dessa conversa dos salgados e insossos. Interessante!! :)
A leveza é interessante
É... principalmente quando não se tem.
Tréguas?? :)
Tens sempre gajas a espera. Tudo se paga neste mundo.
E, normalmente paga-se, neste mundo, normalmente, para se ter gajas, paga-se. Mesmo as que nao sao a pagar, notmalmente, acabamos por pagar e em dobro, nao E assim? Eu, felizmente, tenho pago sempre em dobro. Tu, parece que nao tens essa sorte, nem de pagar nem de receber, em dobro.
A propósito de próximas mandas, lembra-te: nunca confundas hierarquias militares e, sobretudo, um comissário de bordo com um comandante; corpos diplomáticos ou militares: é de mau gosto confundir o comandante vestido de “noiva” com o empregado de mesa. Dá raia pela certa! Hospedeiras, aeromoças, assistentes de bordo e afins: chama-lhe antes tripulantes :)
Insosso vs salgado: é mau querer estar de bem com Deus e com o Diabo ao mesmo tempo, mesmo com leveza. Ou é ou não é, o meio-termo é que não. São opções. Em minha opinião, não faz qualquer sentido querer saber por quem os outros nos tomam se não nos assumimos coisa alguma. Eu responderia em português… porque é bom sermos
capazes de estar neste espaço global mantendo a nossa identidade sem nos preocuparmos com o que os outros pensam de nós, desde que sejamos capazes de nos assumirmos salgados, ou não (muito ou pouco). Fizeste, pois uma excelente escolha ao citares António Gedeão, para dares um pouco mais de sal ao teu texto. Também gosto muito deste, e aqui fica, só para ti:
“Gota de Água
Eu, quando choro,
Não choro eu.
Choro aquilo que nos homens
Em todo o tempo sofreu.
As lágrimas são as minhas
Mas o choro não é meu.”
Mat
Tems pagado em dobro. A quem? Estas solteiro e sem familia.
Não basta amar, é preciso saber amar.
A estupidez do anónimo acima inspira-me. Inspira-me tanto que não lhe vou dedicar nenhuma das minhas doutas palavras, mas o tema, mais uma vez, é excelente: Não basta amar, é preciso saber amar. Vou dormir sobre o assunto.
Isso de nem ser insosso nem salgado é uma boa merda. É como não ser carne nem peixe, nem doce nem amargo. Isso é como não ser nada, não achas? Há que ser alguma coisa, e principalmente, assumi-lo. Também calha bem não haver preocupações com os que os outros pensam, ou por quem os outros nos tomam, mas isso, nem todos conseguem.
(já tiravas esta cena da vefiricação de palavras, não? trabalheira, pá...)
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