O champanhe bateu tanto que quando dei por
mim estava na porta de embarque para
Atenas. “Dar-se por si” é, por assim dizer, o contrário de “desacordar-se”,
com a mesma naturalidade com que adormecer é o contrário de acordar. E porquê?
Porque tanto o desacordar como o dar-se por si requerem uma dose significativa
de brusquidão. Já o adormecer e o
acordar requerem calma. São ambos antónimos sintonizados num mesmo nível de
energia, como todos os antónimos deviam ser. Já é suficientemente mau ser-se
antónimo que se salve pelo menos a sincronia! Como estava a dizer dei por mim
encontrava-me a embarcar para Atenas, sossegadinho. Era, juro, a primeira vez
que sentia um misto de calma e desconcerto no acto de embarcar de Genebra para
o Porto.... Alto! aqui, o antónimo desconcerto não vai bem com a palavra calma,
e porquê? Porque requerem níveis de energia muito diferenciados e isso é muito
maus para além do mau que já é ser-se antónimo. O desconcerto que sentia, dizia
eu, era derivado da estranheza que se tornava o facto de me sentir calmo ao
embarcar de GVA para OPO. Estava a ser tremendamente estranho não ver as pessoas
a tentarem meter os cães e os gatos, as
avós os tios e os sobrinhos e tudo o resto a que têm direito sem deixarem no ar
aquela ambiência de quem faz as coisas à socapa. Os gregos são geneticamente parecidos com os
portugueses. Economicamente são iguais, embora em Portugal se diga que não que
Portugal não é a Grécia, que ah e tal Portugal é muito diferente. Apercebi-me naquele quase embarque, mesmo no
momento em que estava a de-desacordar, a dar-me por mim, portanto, que a diferença basilar está-lhes na forma
como encaram a vida: Os gregos não poupam nada para viver; Os portugueses não
poupam coisa alguma para morrer. Esta subtil diferença faz muita diferença. Os
gregos são calmos com a vida e aguerridos com quem lhes quer passar a ideia de
morte. Os Portugueses são uns stressados com as coisas boas e simples da vida e
mansos com quem os empurra para a morte. As únicas revoltas que promovem
acontecem nas paragens de autocarros, nas prateleiras dos supermercados e nas
filas de embarque do avião. Cada vez mais e de forma mais rápida, os portugueses
nascem, crescem, reproduzem e morrem; Cada vez mais, com a calma que o viver
demanda, os gregos nascem, crescem, copulam, copulam, copulam, copulam e
esquecem-se, esquecem-se de morrer.
Quando dei por mim, dizia, estava na porta
ao lado, ao lado daquela que me traria ao Porto essa excelente entrada para o
prato principal que é Guimarães.
No início era o champanhe, depois...
também.