quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

MCM TOP TV



Hoje, enquanto me distraía das nádegas gelatinosas de uma tuga que frequenta dia sim dia sim o mesmo ginásio que eu, vi esta música ser arruinada pelo grande (en)cantador Bastian Baker (BB) na MCM TV: Hallelujah.
Existem apenas duas versões do hallelujah, a primeira do seu grande criador, Leonard Cohen (LC), e a segunda, do enorme Jeff Buckley (JB), que a tornou célebre e irrepetível. Tudo o resto é ousadia a ser gasta na direcção do fracasso.

Aqui estão as 3:

O Halleluijah traz na letra o elogio ao amor, na melodia uma gigantesca dose de compaixão, na voz a encarnação da leveza. Não precisa de mais nada, ou, reformulando pela positiva, dispensa o resto, a imagem, o filme, a desilusão em que a película muitas vezes se torna quando comparada com a criação feita no processo de pensamento. É aqui que reside a principal diferença entre as duas primeiras e a terceira, bem como tudo o resto que por aí se faz em termos de som, imagem, ou, de uma forma mais geral, arte. Há músicas que precisam de um bom filme como há filmes a precisarem de boas músicas para se tornarem em aparições da perfeição. LC e JB fizeram coisas perfeitas na área da música (O LC ainda nos pode surpreender, ou desiludir, e esse é o problema. Daí a minha classificação de grande para LC e de enorme para JB).
A versão do Bestian Bacon precisa de um filme que reduz o amor a um corpo, a compaixão à comiseração do mesmo corpo quando vê a sua existência ser preterida demasiadas vezes na presença da guitarra, e a leveza ao estereótipo muito bem criado por Milan Kundera (MK) no seu soberbo livro A Insustentável Leveza do Ser, que é em grande parte feito de um quarto que também é um estúdio onde se executam processos criativos, de uma cama meia feita meia por fazer, de um espelho, de um chapéu, de pouca roupa, de uma Sabina, um cheiro, um Tomaz, de todo um desnorte.
Ou seja, esta versão do Halleluijah de BB, para além de necessitar de um filme para existir, baralha tudo de uma tal forma que é o filme que passa a necessitar de uma música para não cair na inexistência. Como já se viu, não sendo o desempenho musical suficiente para dar existência a tal filme, acabam por se anularem mutuamente, implodindo como implodem as galáxias em fim de vida.

Com este videoclip não perdi tudo...
Apesar de ser claro existir mais acção em meio segundo de nádegas gelatinosas da tuga do ginásio do que nos 4 minutos do videoclip, nunca umas nádegas como aquelas me despertariam a vontade de reler MK e a forma como um espelho reflectindo uma mulher nua e um chapéu formosos definem tão singularmente o conceito da leveza. Deve ser o espelho que ao reflectir dá igual existência subtraindo-lhe o peso da responsabilidade dos corpos. Pode ser também dos corpos despidos das responsabilidades dos trajes, ou, apenas porque existem espelhos existem homens existe o desejo mas não existe aquilo que Jorge Luis Borges classificava como a abominável multiplicação dos homens: “A paternidade e os espelhos são abomináveis porque multiplicam o número de homens”.

Existir sem multiplicar é de uma leveza fascinante.