(Para que a coisa não fique dúbia e para
que se dê o necessário desconto a um possível toque emocional, a TAP,
Transportadora Aérea Portuguesa,
presenteou-me com mais um upgrade para executiva no meu último voo de GVA
para OPO)
A TAP, esta companhia de aviação portuguesa
que se encontra entre as mais seguras do mundo,
e que está em “oferta pública de
venda” por este nosso governo, tem melhorado a olhos vistos nos tempos mais
recentes. Esta melhoria é evidente não só no cumprimento dos horários como na
qualidade dos produtos e serviços a bordo.
Podem até os mais puristas e viajados virem dizer que a qualidade é a
mesma que eu até manietarei a cabeça para não admitir a discordância, agora,
não me venham dizer que não há uma diferença substancial no sorriso! As
tripulações estão muito mais simpáticas e este factor está para a teoria da
ordem e do bem estar como o bater das asas de uma borboleta está para a teoria
do caos. Faz toda a diferença. Provoca
uma reacção em cadeia em direcção da felicidade, fluxo que até os físicos mais
atentos têm dificuldade em justificar e os químicos um dia irão formalizar como
a substância base do elixir da juventude.
Entramos no avião e somos recebidos com um
sorriso de olhos e cabelos escuros, um salto alto azulado a condizer com um o
traje também ele de um azul quebrado suavemente por umas listas vermelhas
moldando um busto seguro que nos exige e ao mesmo tempo proíbe um abraço, seguindo
em direcção a umas lindas unhas de um rosa a querer ser vermelho, tudo
conjugado num momento de pecado e luxúria, digo eu, um momento que deve ser de
um prazer imenso e que a vida às vezes decide oferecer a alguns, poucos, felizardos,
e por um enérgico bom-dia de uma áurea branquíssima, mesmo que a noite
estivesse já à espreita, um bom-dia de nariz que com toda a propriedade se nos apresenta
empinado, de um empinado amistoso e puro (por causa da aura branca, pode ser?),
sendo que neste dom da propriedade basearei todos os meus argumentos com quem ouse
debater comigo a inegável melhoria dos serviços TAP.
Estava já o embarque finalizado e de nariz
empinado e puro foi-nos oferecido jornais e revistas de igual qualidade. A
apresentação das medidas de segurança foi feita com a alegria de quem se
encontra em perfeita harmonia com as leis da vida, da gravidade e da
termodinâmica, para logo logo atingirmos a velocidade cruzeiro e passarmos a
apreciar a parte mais material do serviço uma vez que da imaterial, dos azuis e
dos vermelhos e da felicidade das fardas e das sardas, tendo dito fica quase
tudo por dizer.
Ainda o Público ia na página das desgraças
e já estava a ser distribuído o menu de bordo com o respectivo aperitivo. Ia
pedir um gin tónico fachavor, mas porque a acção gera reacção tive que pedir um
gin tónico se faz favor e terminei com uma expressão de um sorriso suave, sem nicotina.
Pedir um gin tónico fachavor seria o mesmo que Beethoven meter um Lá seguido de
um Lá tristemente rebentando com toda a sinfonia, a Quinta, vá lá. Lá bebi o
gin tónico nas calmas para logo de seguida ser questionado se queria um prato
de peixe ou de outra coisa qualquer que tive vergonha em admitir desconhecer.
Como sou um cliente de risco moderado, julga a minha gestora de conta na sua
inocência, apostei no peixe, no bacalhau, acompanhado por um branco do Douro. O
menu, bem recheado, começava com um paté de Foie Gras com compota de pêra, o
bacalhau vinha com molho de especiarias e a Pintada quente de escabeche, o
outro prato que decidi não experimentar pois se há coisas que não gosto, embora
admire que os consegue promover, é um escabeche, vinha com batatas salteadas,
um pudim de laranja com anis para a sobremesa, café e chá, e, ainda “lamentamos caso a escolha fique condicionada
por anterior opção de outros passageiros”, tudo isto saído das mãos de Vitor
Sobral, consultor gastronómico e que em inglês, com mais pinta, se diz: Gourmet
Consultant.
Há, no entretanto, um reparo a fazer...
Quando se viaja com a TAP, que como já disse é uma das companhias de transportes mais seguras do mundo, não se arrisca nadinha. Como sou um fervoroso adepto do facto de que a vida sem risco é um vida sem sabor, que ao contrário de Gil Vicente prefiro um cavalo que me derrube do que um asno que me leve, uma égua que me derrube para ser mais claro, decidi-me pelo bacalhau que, para azar dos diabos e do sabor da minha vida, vinha sem espinhas. E não há nada mais desconfortável do que uma viagem com tanto conforto e tão pouco risco.
Quando se viaja com a TAP, que como já disse é uma das companhias de transportes mais seguras do mundo, não se arrisca nadinha. Como sou um fervoroso adepto do facto de que a vida sem risco é um vida sem sabor, que ao contrário de Gil Vicente prefiro um cavalo que me derrube do que um asno que me leve, uma égua que me derrube para ser mais claro, decidi-me pelo bacalhau que, para azar dos diabos e do sabor da minha vida, vinha sem espinhas. E não há nada mais desconfortável do que uma viagem com tanto conforto e tão pouco risco.
4 comentários:
E que risco quererás tu correr dentro de um avião homem?
(Só se for fazer "trapézio" na casa de banho, o que tendo em conta a área do cubículo e o teu tamanho se me afigura matemáticamente impossível, ou então tens tendências suicidas. LOL)
Com tantos tugas a bordo há sempre o risco de levarmos com uma garrafa de vinho do porto caído sabe-se lá de onde.
A casa de banho parece-me bem... Só costumo lá ir qd passo sobre Paris... Nao tenho tido essa sorte nos últimos tempos.
Ahahaha, sobre Paris... É bem!
(se esqueceres que tudo o que está dentro do avião só é descarregado no destino)
Ahahaha, sobre Paris... É bem!
(se esqueceres que tudo o que está dentro do avião só é descarregado no destino)
Enviar um comentário