quinta-feira, 3 de julho de 2014

BES, Judite e Carolina Patrocínio

Nas últimas semanas, na minha rede de amigos do facebook, que estou seriamente a ponderar vistoriar, revisar, adaptar, limpar, falou-se da morte do filho de Judite de Sousa e das mamadas da filha(?) recém-nascida de Carolina Patrocínio, bem como do corpo fantástico da mãe, nada normal para quem acabou de parir.
Compreendo e respeito os dois momentos, a dor da mãe Judite e a felicidade da mãe Patrocínio. Dois momentos de sentimento intenso e tão antagónico, o da vida que, como uma chama desprevenida se apaga com o vento, e o outro, o da vida que se inicia com a mesma suavidade com que o presente se deixa transformar em passado. Como disse, compreendo os dois momentos e partilho, ainda que com a mesma brevidade com que um partícula de luz me trespassa o pensamento, um pouco dos dois. Eu sei que a última frase pode parecer cruel, mas, infelizmente, este é o nível de compaixão que sou capaz de atingir ou dedicar a pessoas que não conheço.
O que me custa compreender, e que, imagino, nem a maior das compaixões do mundo conseguiria suportar, é o comportamento de alguns dos meus amigos, os da rede virtual, com as constantes partilhas, likes e comentários, ora lamechas, ora de extrema felicidade, a cada um dos factos, como se tivessem sido eles que se pariram. É estupidamente irritante! Grupos como os que diariamente me aparecem, e são sugeridos por acção destes meus amigos, do tipo, Força Judite, Judite SOUSA estamos contigo, Apoio a Judite, são entretimentos de quem precisava era de um trabalho a sério para se entreter. A sério!

Não compreendo como se consegue comentar tanto a morte e as mamadas de quem ainda não está propriamente na plenitude da vida, e não haver um único comentário sequer aos momentos actuais, à vida, à fatalidade de sermos portugueses, a fragilidade de sermos completamente roubados por grupos mafiosos da alta finança, por políticos corruptos, por interesses obscuros, por uma justiça de dar voltas ao estômago. Os meus amigos comentando a morte ou a pré-vida, esquecem-se do que realmente interessa, da vida. São raros os meus amigos que comentam o facto de termos mais um banco para resgatar, mais um grande roubo para reparar. Das duas uma, ou andam distraídos ou, então, como a avestruz, tentam esconder a cabeça na areia com estas coisas banalidades, na esperança de que a coisa passe. Das duas alternativas, venha o diabo e escolha!

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