sábado, 23 de maio de 2009

Chegada

Porque desta vez me saía directamente do bolso, aluguei o quarto num dos hotéis mais baratos do círculo, onde, ainda assim, anunciavam 100 anos de história. Era um hotel com bom aspecto na sua página Web (não é de estranhar pois na Web até pessoas feias têm um aspecto divino e apetecível). À chegada verifico pelas pinturas nas paredes das zonas partilhadas que, de facto, é um hotel com 100 anos. Queria pensar nos 100 anos de cópulas que aqueles quartos distribuídos por 4 andares teriam para esconder, mas, aquelas pinturas, só me traziam à cabeça um século de gente que ali morreu. Entrei no quarto imaginando-o lúgubre, feio e frio mas, como de costume, as primeiras aparências das áreas comuns tinham-me iludido – acontece também com as pessoas, a aparência das áreas comuns dissimulam o pormenor. O quarto era aconchegante, com cores que nos transportavam a uma calma celeste. Todos os meus pensamentos sobre gente morta e séculos de copulação fortuita apagaram-se do meu ainda pequeno cérebro. O quarto era pequeno, pequeno demais para alguém ali morrer, e, a calma das cores dizia-me que, se cópula algum dia ali houve, foi cópula com sentimento e isso não é copulação, é amor.

Wisbaden, Germany, 2009

Não, esta não foi a chegada, ainda, ao raio que me parta. Até porque nem é o raio que me parte que me move, mas o que vem depois dele.

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