sábado, 23 de janeiro de 2010

Anna

Ela tem cabelos pretos pretos e uns olhos verdes verdes que tornam irrelevantes os seus 1,83 m quando de salto. Claro que os seus olhos mudam de cor, comutando entre um azul esverdeado e um verde azulado, de acordo com o seu estado de espírito, explica-me com complacência. É singela em demasia - a natureza dá-se a cada excesso! Bonita, é quanto baste.
Pensa que é caótica nos pensamentos mas, e só desta vez, permite-se a pensar de forma errada. Tudo o que nela existe, o corpo, a alma, o fio ou vontade breve que mantém os dois unidos, está completamente definido e organizado a partir do momento em que decidiu dar-se por si.
Conhece os astros e o funcionamento do cosmos como ninguém, e, quando não os conhece assim tão profundamente, trata de criar as mais belas teorias que rápido rápido passam a ser comummente aceites pelas comunidades mais científicas. Por exemplo, por não acreditar na corrente que diz que as plantas nascem em direcção ao sol, concebeu a razoável teoria de que as plantas não crescem e o que acontece vermos é apenas o efeito visual e falso da terra a desaparecer-lhes nos pés. Depois, claro, foi por aí fora e desvendou que os pássaros não voam, apenas encontraram uma forma inteligente de se libertarem das amarras da gravidade. Bem, consta-se que Einstein já começa a dar pulos na cova por suspeitar que um dia ela, a Anna com 2 énes, lhe vá descobrir que afinal a velocidade da luz não é constante e que, se assim é, a própria luz ultrapassa a velocidade da luz e, assim sendo, diz ela, lá se vai o alicerce que sustenta todas a teorias da física e da mecânica até hoje. Não é elementar meu caro António, continua, que se a luz se ultrapassa a si própria então haverá um momento em que qualquer outro elemento o poderá fazer? Eu digo que sim, que é elementar, sem entender a abrangência da sua questão, ao que ela me responde sabendo que só vai encher de átomos vazios as interjeições deste nosso espaço, Então, pensa, talvez um dia eu vá saber o que pensas antes mesmo de tu o teres pensado. Eu, eriçado como um menino, com aquela pele de galinha que vestimos quando alguém nos inquieta com o oculto, limito-me a avaliar esta estranha urgência com que ela passa do macrocosmos ao microcosmos, sustentando ambos numa teoria única e universal, e penso, que talvez não seja suficientemente homem para esta transcendente Anna.
Obrigado por teres cruzado o meu caminho.

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