domingo, 13 de fevereiro de 2011

Troubling


 Mogwai - Travel is Dangerous

Não sei se é para me esquecer ou para me lembrar de que viajo para Riade, o que é certo é que, a cada viagem, acabo por beber um pouco (de) mais.
Desta vez comecei no lounge da Lufthansa e com uma mão cheia de boas intenções, preparando um lache macchiato, pão com compota e duas tigelas de cereais com leite simples. Deixava para trás o sol e a alegria de ser português e nada melhor do que café com leite, que em Portugal se celebra com o nome de galão ou meia-de-leite, directos, para me recordar do facto. Frankfurt, essa Frankfurt sobre quem me quero convencer de que nunca é nem será destino mas meio caminho para outra coisa qualquer, acenou-me a lembrança de que do outro lado estava desta vez, mais uma vez, vezes demais, o deserto de ideias que é a cidade de Riade. Estava quente e bem com todo o frio que fazia lá fora, do outro lado da vidraça. Estava bem porque todas as minhas caminhadas nem são peixe nem são carne, nem são princípio e por princípio não são fim, são sim, como me quero convencer a despeito de Frankfurt, o meio, o temporário, o efémero de alguma coisa que espero nunca venha ou, se vier, venha a acontecer muito tarde porque não me canso de viver neste lugar muito lugar nenhum. Em Frankfurt, como estava a dizer, vejo-me sempre a meio, desta vez, entre o verde do Portugal minhoto e o amarelo árido do deserto Saudita e logo logo, logo que o estômago deu o seu assentimento, passei a uma Becks loiríssima como a mais loira das alemãs acompanhados por uma pasta italianíssima de Frankfurt. Logo logo rejeitei a pasta me dedicar totalmente e de lábios dados com a Becks, mais uma, de similar doirado.
Entrei no avião como se entrasse numa nave espacial de especial com destino a nuvens de algodão doce. A saída de emergência lá me esperava para o característico embate com o João-pestana do arranque ainda com a Becks a dar-me cabo da cabeça como todas as coisas femininas o sabem fazer. Logo logo se seguiu o lanche servido pelas senhoras feias da Lufthansa, diria, se ali naquele voo não houvesse uma bela excepção com um metro e setenta e cinco de altura. Um gin tónico por favor. Bife ou cordeiro disse uma das que não faziam parte da excepção. Detesto cordeiro. E como bebida o que vai detestar, formalizou. Vinho tinto e já agora um copo de água, sem gás. E mais um e mais um e mais um, copos, de vinho. Ao quarto copo decidi ir à casa de banho aliviar a bexiga do copo de água que não parava de me atormentar e tirar alguns apontamentos das expressões das gentes naquele voo.
Chego à conclusão de que já só escrevo em duas situações, ou quando estou bêbado, o que é raro, ou quando estou de regresso a Portugal.
Como dá para ver pela descrição eu não me encontrava a regressar a Portugal.
Um conhaque para rematar, diz um dos comissários de bordo. Sim, para rematar. Era um conhaque dos bons, embora não chegasse aos calcanhares de um Remy Martin.

3 comentários:

Anónimo disse...

Remy Martin, é bom, muito bom. Partilhava sim, isso partilhava contigo...
lol

B.

Anónimo disse...

Quanto à música...
Só há duas coisas que partilhas bem:
A tristeza e o sarcásmo...
Não gosto nem de uma nem de outra.
A música é belissima mas triste, demasiado triste.Só depois de um ou dois Remy Martin a poderia ouvir, para não a sentir.
B.

Anónimo disse...

http://www.youtube.com/watch?v=yWu2iAaAJUc