sexta-feira, 5 de junho de 2009

Desenrascar...

Aston escreveu um artigo onde descrevia as 10 palavras mais divertidas de que o idioma inglês mais necessitava. Recorrendo a algumas imagens e a exemplos descreveu o que nos outros idiomas se consegue dizer com uma só palavra. (ver em: em http://www.cracked.com/article_17251_p2.html ). Surpresa das surpresas, a palavra que encabeça essa lista é portuguesa, bem portuguesa, diga-se: Desenrascanço! Desenrascanço que ele fez o favor de escrever sem cedilhas porque os teclados britânicos e americanos não nos permitem esse luxo.
Desenrascanço. Claro que em Portugal até um miúdo de 5 anos sabe o que significa o desenrascanço. O Xiquinho só tem que chegar a casa e dizer ao pai que o Manel lhe bateu, ao qual o pai lhe ordenará: Olha, desenrasca-te!
Isto, sim, é educação. É muito português. É todo nosso.
O artigo diz que enquanto eles, o resto do mundo, eram ensinados a estarem preparados, em Portugal ensina-se o desenrascanço nas escolas e na tropa. E não é que é verdade?! Depois continua descrevendo que desenrascanço é o fazer de MacGiver, essa capacidade de encontrar uma solução para todos os problemas no último minuto, uns segundos antes de a bomba explodir, se quisermos dar mais emoção a esse artigo.
Embora a associação deste atributo aos portugueses não me tenha ajudado em nada na minha aventura profissional, uma vez que sendo eu um português que não se renega tenho sempre que provar o dobro quando comparado com um francês, holandês, alemão ou inglês, o autor do texto dá-lhe até uma valorização muito positiva, concluindo: Não se riam do desenrascanço português pois foi à custa dele que um dia conseguiram edificar um império que se estendia do Brasil às Filipinas. E fecha com este entusiasmo: “Fuck Preparation. They have desenrascanco”.
Houve três grandes portugueses, pelo menos, que conseguiram descrever, cada um à sua maneira, em prosa ou em verso, o ser-se português e o que isso representa para o mundo em termos de potencialidades para a resolução das suas grandes questões e conflitos permanentes. No fundo todos eles eram apologistas deste desenrascanço, apenas lhe chamavam nomes diferentes. Camões descreveu brilhantemente a inspiração dos portugueses que ofereceram ao mundo o oceano e que lhe iriam oferecer um dia o quinto império. A inspiração é coisa que não se planeia, aparece no último segundo. Desenrasca-se, digamos assim. Mais tarde, Fernando Pessoa, com toda a sua imprevisibilidade e personagens, falou também de um quinto império só ao alcance de um Povo, o Povo português. Agostinho da Silva, por último, chegou mesmo a dizer que a missão de Portugal e dos portugueses é sacralizar o universo. Porque o ando a revisitar vou colar aqui um excerto de uma entrevista dada por AS a Vitor Mendanha. AS diz assim: “O português, em situações difíceis, aparece como capaz de apresentar uma solução de que ninguém se tinha lembrado e perante a qual os outros povos até recuaram, por parecer não existir qualquer espécie de solução. Do português há a esperar tudo e haver um povo no Mundo do qual tudo há a esperar parece-me ser uma coisa extraordinária… Gostaria muito que o Povo português se especializasse no imprevisível”.
O dono do artigo que coloca o desenrascanço português no top 10 das palavras que mais falta fazem ao idioma inglês, se tivesse lido um dos 3 nomeados acima, em lugar de concluir no passado passaria também a rematar mais ou menos assim no futuro: Não se riam, será à custa deste desenrascanço que os portugueses oferecerão ao mundo um quinto império fora das rédeas do tempo e do espaço.
Eu sei… Com miséria política, social, económica que se instalou no país fica até difícil de acreditar. Mas, Portugal, é “o ser-se português”, e ser-se português pode-se ser em qualquer lugar do mundo. Eu acredito no quinto império, para lá da quarta dimensão espaço-tempo!

Sem comentários: