domingo, 6 de dezembro de 2009

Censura do dicionário português

Não sei por que carga de água o dicionário do MS-Word não aceita a palavra Copulação. A palavra marcada a vermelho por este dicionário tem um impacto na minha amígdala emocional ainda mais severo do que o impacto provocado pelas repreensões do senhor abade da freguesia, no antigamente. Assim, pode dizer-se que o vermelho do MS-Word sob esta palavra está para a minha emoção como os puxões de orelhas do senhor padre estiveram para a minha vida: Só serviram para atrasar. Quando tento ver o que o dito dicionário me sugere, clicando no botão direito do rato e acedendo a correcção automática, apenas a palavra “copularão” é sugerida. Ora é precisamente aqui que verifico uma espécie de censura do português, censura essa que não se verifica, tenho a certeza, se usarmos o dicionário de português do Brasil. E há censuras que nos atrasam, em todas as áreas, da economia à saúde, das finanças ao bem-estar, a censura da palavra copulação é uma delas.
"Copulação" não tem nada a ver com o “copularão” sugerido pelo dicionário português. “Copulação” é um facto, é uma acção, copularão é uma possibilidade remota, e aqui, não tenhamos fantasias, passando o dia passa a romaria. Copularão é tempo verbal futuro ainda mais longínquo ou num intervalo de incerteza maior do que a sua forma verbal conjugada no condicional: Eles copulariam se... No condicional pelo menos sabe-se o que impossibilitou a copulação e, na próxima oportunidade, tenta-se remediar as coisas antecipando esses ses. A copulação no futuro, copularão, não nos ajuda em nada, apenas, como já disse, nos atrasa. É que os portugueses têm fama de ficarem à espera de quem nunca vem, como no caso do D. Sebastião, quer haja ou não haja nevoeiro.

Não há pior censura do que aquela que nos toma pelas promessas. Copularão é uma promessa do dicionário português da Microsoft. Uma possibilidade improvável e, por isso, castrante. Procurando definições para a palavra na internet encontrei alguns argumentos que desprestigiam a acção implícita da copulação, por exemplo, o vikcionário (http://pt.wiktionary.org/wiki/copula%C3%A7%C3%A3o) diz de Copulação: Variante pouco usada de cópula. Isto é desprestigiante! É claro que também encontrei alguns dicionários com descrições quase candidatos a prémios Nobel (http://medicosdeportugal.saude.sapo.pt/action/10/glo_id/3104/menu/2/), onde copulação aparece como “União dos órgãos sexuais masculinos e femininos, destinada a permitir a introdução dos espermatozóides nos órgãos genitais da fêmea. Nos mamíferos – incluindo o homem – consiste na introdução do pénis na vagina. No caso do homem, emprega-se mais correntemente a designação coito. 2) Sin. de fecundação”.
É ou não é uma descrição literária e da bonita?

6 comentários:

Anónimo disse...

Num velho dicionário de Língua Portuguesa que tenho cá em casa, copulação aparece como sinónimo de ligação química. Ora cá está, os Portugueses não ficam à espera de quem nunca vem para copularem. Parece-me é que ficam à espera para que, ao copularem, consigam a ligação química perfeita de preferência exotérmica. Assim a copulação no futuro não é sinónimo de atraso mas sim de persistência.

Anónimo disse...

O meu voto e concordancia ao quadrado, incógnito e transparente. No entanto... a persistência também se esgota, especialmente se o nevoeiro for tão denso que não deixa o D.Sebastião ver um cavalo á frente do nariz . Querido Kid a ligação quimica na qual acreditas mas te negas é a única possivel...

Anónimo disse...

Mas não leves muito tempo a aceitar a ligação quimica da coisa, porque esgotada a persistência, vai a paciência para as couves e por muito que o D.Sebastião se esforçe em chegar apesar do nevoieiro, a D.Inês pode já não existir, neste mundo. E parece que o outro ainda ninguém sabe se existe...

Anónimo disse...

Parece que D.Inês ficou á espera de D.Sebastião porque a ligação quimica era perfeita e exotermica também. Nunca saberemos se na copulação era perfeito mas que foi persistente lá isso foi , e paciente. Se eu me chamasse Inês e tu Sebastião querer-te-ia "ainda" sim, com ou sem copulação.

Anónimo disse...

A D. Inês era a apaixonada do D. Pedro e não do D. Sebastião. Pedro e Inês foram um dos pares românticos mais conhecidos da nossa história. D. Sebastião pelos vistos, não era chegado a estes sentimentos. Assim, mesmo que o nevoeiro o permita, ele pode chegar mas não terá nenhuma Inês à espera...nem estará interessado em procurá-la...

Anónimo disse...

O Amigo anónimo tem toda a razão. Sinto-me envergonhado por tamanha ignorância, na troca dos nomes. Coisas da idade em que já chamo o que não devo ...Isto vai ter tendência a piorar agora com nevoeiro e sem ninguem interessado , mais a ignorância pela nossa história. ( á qual desde já peço as minhas humildes desculpas) .Obrigado pelo esclarecimento a todos os niveis.