sábado, 28 de agosto de 2010

Implosão ou explosão?


Se prefiro implodir ou explodir? Sinceramente, e apesar de só se existir nesses dois eventos, por ora, prefiro a não existência que os intermedeia. Porquê? Porque me sinto bem. Se um dia me encher desta não existência ou se alguém se encher da minha não existência e me fizer deslocar para uma das pontas dessa cadeia onde só se existe no princípio e no fim, então, preferirei de longe a implosão à explosão. A implosão é singular; a explosão é plural. Escolherei a implosão com a mesma certeza de quem escolhe o silêncio porque conhece a sua beleza e porque, talvez, tenha já vivido demasiado tempo no desperdício do barulho. Depois, adoro as coisas compactas, que nelas, ainda que por breves momentos nesta minha não existência, o pensamento breve de que estou ainda a tempo de existir, se realiza e, depois, se materializa naquele friozinho intestinal que os entendidos chamam de adrenalina e eu às vezes chamo de cagaço.
A explosão afasta os corpos e, como nos frigoríficos, o calor da lugar a um frio que pode ser horrivelmente eterno. O calor da implosão transforma, ao contrário do frio da explosão que apenas congela. A singularidade não ocupa espaço; o big bang desperdiça-o singular e estupidamente. Na singularidade da implosão o tempo é paradoxal e, então, é-se e, então, está-se. Na explosão o tempo existe como uma barreira que nem nos deixa ser tanto quanto queremos nem estar tanto quando podemos.
A explosão é um orgasmo. A implosão um anti-orgasmo.
(Adenda)

E não, na singularidade da implosão não há escombros mas sim a absoluta arrumação, onde todos os objectos cabem dentro de si e por sua vez dentro do nada. É paradoxal não só em termos de tempo, como de espaço, que são o mesmo.
A implosão é tipo um buraco negro, que é negro só para quem está do lado de fora do seu horizonte de eventos. Os que estão lá dentro, usufruem de uma luz suprema. A partilha é um dos elementos base e não, não é imóvel e muito menos intocável esse espaço que se quer exíguo. A dinâmica dos objectos dentro de objectos dentro de objectos dentro de objectos arrumados no nada só pode ser infinita.
Depois da explosão há morte e muito raramente se criam condições para a vida. Depois de uma implosão há silêncio… material necessário à vida inteligente.

5 comentários:

jacklyn disse...

Acho que és um grande sovina :) Se explodisses estarias a partilhar, ao implodires guardas tudo só para ti, manténs tudo num mesmo mesmo lugar, imóvel e intocável, ainda que sejam só escombros.

Kid A disse...

Não, na singularidade da implosão não há escombros mas sim a absoluta arrumação, onde todos os objectos cabem no nada. É paradoxal não só em termos de tempos, como de espaço, que são o mesmo.
A implosão é tipo um buraco negro, que é negro para quem está de fora do seu horizonte de eventos. Os que estão lá dentro, usufruem de uma luz suprema. A partilha é um dos elementos base e não, não é imóvel e muito menos intocável. A dinâmica dos objectos dentro de objectos dentro de objectos dentro de objectos arrumados no nada só pode ser infinita. Depois da implosão só se pode partilhar porque o espaço exíguo e único. Imagina o que pode acontecer àqueles 33 mineiros num espaço de 45 m2 quando deixarem de partilhar os cheiros e os suores ;-))

Vou pensar e fazer uma adenda ao meu texto, com base nesta tua "provocação".

jacklyn disse...

Talvez os mineiros passem a valorizar infinitamente mais tudo que está cá fora, e depois, saindo sãos e salvos, "expludam" ;-)

Espero pela adenda :)

jacklyn disse...

Não querendo falar no Big Bang, mas falando, que até prova em contrário foi a explosão-mor que originou TUDO, a "dinâmica de objectos, dentro de objectos, dentro de objectos..." fez-me lembrar quando era miúda e depois das aulas de inglês esperava pela boleia do meu tio, barbeiro, e então lá na barbearia, eu via a minha imagem nos espelhos, um de frente e outro de costas, e o da frente reflectia o das costas e o das costas reflectia o da frente e assim sucessivamente até as imagens ficarem tão pequenas que desapareciam. E eu pensava que tudo aquilo que se repete até ao infinito, inserido na "cópia" imediatamente anterior tem tendência para desaparecer. Tanto em tamanho, ou massa se quiseres, como em identidade.

O silêncio é necessário à vida inteligente? Discordo. A própria definição de inteligência te boicota essa afirmação. Capacidade de adaptação, ou neste caso, se preferires, capacidade de abstracção.

Anónimo disse...

Não sabia deste teu novo blog. Não sei o que devo pensar.