Hoje acordei cedo para participar de uma caminhada que nos acabara por levar
dos 1000 aos 2000 e poucos metros de altitude, numa viagem que não dura menos de
6 horas. É uma das caminhadas que satisfaz bastante por um conjunto diverso de
razões, das quais nomeio três: Primeiro, o ambiente é idílico, como aqueles que
vemos em alguns dos postais dos correios; segundo, é um percurso duro, 6 horas
para pessoas não habituadas a caminhadas, por escarpas e veredas, de um-passo-em-falso-interdito,
onde a dor do corpo na chegada nos dá a sensação que só o super-homem deve conseguir
descrever, não pela dor que o homem não tem dor, mas pela sensação de poder físico;
terceiro, é física e psicologicamente melhor e mais eficaz que umas vinte
sessões com um treinador pessoal ou uma psicóloga dedicada, mesmo que a
segunda, a que nos trata da mente, fosse assim... sei lá!
Durante a caminhada, onde o pulsímetro por vezes vai para além das 165
batidas por segundo que o coração apressado tenta dar, encontramos pessoas de
vários credos e crenças, nacionalidades, idiomas e raças. Nesta caminhada, por
incrível que pareça, não ouvi nem vi um único português. Por incrível que
pareça pois estamos na Suíça, onde o português, em algumas localidades, é o
segundo idioma mais falado.
Agora que faço esta retrospectiva admito que estou a mentir, vi um
português confesso, confesso, ainda antes da caminhada, e este facto servirá de
penitência para a minha mentira, enquanto atestava o depósito do carro com
gasóleo, apressado para além de confesso, a comprar sacos de gelo vazando-os
para vidões improvisados que mais tarde irão converter-se nos frigoríficos mais
eficientes encontrados juntos às churrasqueiras do lago Leman.
Dá que pensar este facto!
Não sei se prefiro uma
cocha de frango assado em molho de piripiri e regado a super-bock bem gelada,
se este gostinho em que o corpo se sente depois de uma caminhada. No que toca
às efervescências, tenho a certeza de que aprecio muito mais uma aspirina que
um gorosan, o que só me pode levar a concluir que em nada se deve comparar uma caminhada
na montanha a uma gatinhada do churrasco para a voiture.
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