quarta-feira, 28 de outubro de 2009

António...

Estendido numa cova à espera que o ataque acabasse, olhando as hirtas sinhuetas de chapéu alto dos eucaliptos idênticas a fúnebres testemunhas de duelo, de G3 inútil no suor das mãos e o cigarro cravado na boca como palito em croquete, descobri-me personagem de Beckett aguardando a granada de morteiro de um Godot redentor. Os romances por escrever acumulavam-se-me no sotão da cabeça à maneira de aparelhos antiquados reduzidos a um amontoado de peças que eu não lograria reunir, as mulheres com quem me não deitaria ofereceriam a outros as coxas afastadas de rãs de aula de ciências naturais, onde eu não estaria para as esqueartejar com o canivete ávido da minha língua, o filho por nascer constituia apenas a cristalização improvável de uma distante tarde de Tomar...

...de Lobo Antunes

Um dos melhores escritores que algum dia li. Não tenho dúvidas de que será o próximo nobel da literatura.

1 comentário:

R. disse...

Demoraste tempo a descobri-lo... :p