A minha sequência “é do diabo” começou com “O Livro dos Espíritos” de Alan Kardec que lido com 18 anos tem um impacto que abala completamente com toda a (in)doutrinação católica. Deus continua ali a existir e o seu jogo também, mas as regras mudam um pouco, para melhor. Há mais benevolência, podemos dizer. A vida passa de um big brother em que o seu final acaba no céu ou no inferno a um big brother com vários níveis em que se pode evoluir ou regredir mas que no final tudo acaba em bem. O inferno deixa de existir e para remissão dos pecados o jogador tem em seu lugar a oportunidade de voltar ao início encarnando sempre um papel diferente, dependente da jogada anterior. O purgatório também não existe e mais uma vez o utilizador tem na reencarnação uma possibilidade de se redimir em circunstâncias melhores se jogou bem ou bem piores ou adversas se jogou mal a partida anterior. Deus continua ainda a espiar os nossos pensamentos e acções.
Como no jogo católico o objectivo é melhorarmos a nossa condição espiritual mas aqui a recompensa é reentrarmos nele em melhores circunstâncias até a um ponto que as necessidades materiais essenciais à existência desaparecem e nós passamos a estar mais perto do paraíso.
Para mim passou a fazer mais sentido. Ali Deus Ama a humanidade um pouco mais e Dá-lhe mais oportunidades de encontrar o caminho certo. No cristianismo Ele ama-nos mas no final podemos ir parar para todo o sempre ao inferno.
Se no catolicismo temos mais a ideia do diabo, no espiritismo passamos a ter a ideia de que existem algumas almas nossas irmãs que andam perdidas no universo e que por vezes se tornam um empecilho do jogo.
Ambas as corrente quase desresponsabilizam quem comete os actos ou as acções, ou porque estava escrito no karma ou porque estava escrito noutro lado qualquer, como no destino, na sina, etc. Ora, já tinha que acontecer assim, já estava escrito, coitado, ouvimos muitas vezes dizer.
Confesso que nunca acabei de ler o livro dos espíritos da mesma forma que pecador me confesso por nunca ter lido a bíblia (o ir diariamente à missa até à maior idade não conta como leitura), com 18 anos por medinho da nova ideia de reino do céu, e com 28 porque se fosse seguir à risca aquelas escrituras então não poderia jamais aproveitar alguma das coisas boas da vida, ou, melhor, talvez porque à luz daquelas regras me senti completamente sem remissão, sem salvação, em pecado.
Alguns livros se seguiram a corroborar esta ideia, todos bons, alguns assustadores, alguns reconfortantes, outros tentando passar uma ideia de esperança sempre mais sob a responsabilidade de entidades superiores do que sob a nossa própria responsabilidade e livre arbitro. Lembro-me do “Muitas vidas muitos mestres” de Brian Weiss que gostei de ler. Um grande livro.
Depois de alguns anos a ver novelas chorando ranho sobre o meu karma, e o dos outros, eis que me começam a surgir alguns livros interessantes sobre química, da fácil, daquela que se aprende sem intenção de se aprender ou, que se aprende nos manuais amarelos do tipo “química para totós”. Destaco, sem quaisquer dúvidas, o Aldous Huxley com o seu Admirável Mundo Novo ou o seu “As Portas”...