Na alfândega do aeroporto Francisco Sá Carneiro é uma pândega. Não falho uma. O pequeno deus de bigode, que não sofre de hipermetropia, porque, qual águia de voo rasteiro, consegue ler as etiquetas ao longe, manda-me seguir para a zona das revistas com um gesto de braço – eu, que consigo fazer muito mais com um dedo, nunca me apresento com aquele olhar altivo de quem pensa que possui um pedaço de mundo – ao que, fodido, assinto.
Lá dentro perguntam-me se trago alguma coisa nas malas. Cuecas e meias, respondo, para demonstrar o meu desagrado. Já me deviam conhecer uma vez que me tornei cliente habitual, no último ano. Já deviam saber ler que aquela minha cara, para eles de cu, é mesmo de um “cara que está prestes a explodir, né”? Eu sou da opinião de que as caras de cu não devem explodir por causa do trabalho que dão a limpar os detritos. Todas as caras de cu deviam implodir, como uma singularidade, sem deixarem rastro, como um fragmento de silêncio. O pequeno deus de bigode tem cara de cú. Eu acho… Já deviam saber, estava a dizer, que da arábia saudita só se pode trazer areia e camelos e que Portugal está já a abarrotar dessas duas espécies, de cima a abaixo. Bom…, a senhora das revistas sorri mas nem assim deixa passar a minha que irá ser em vão. E mergulha uma das mãos com látex bem no centro dos meus boxers suados, devagarinho, com muita calma, sem amor nem piedade, parece-me, mas que há ali aquela emoção de quem se afunda no escuro à procura de ovos, isso não duvido nem por um segundo. Toca-me com igual carinho, sensibilidade, precaução e nível de adrenalina provocado pela grande possibilidade de surpresa, nas meias, como quem apalpa uma perna de tíbia partida.
Começo a achar piada... (continua)
2 comentários:
Brilhante demonstração de ignorância...
ehhh... o Sr é o verdadeiro idiota, isto é, tem muitas ideias... o bigodes, realmente, não deve sofrer de "olhos de lince"!!!
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