quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Ómni

“Prontos”, então é assim, Alemanha, Frankfurt, 2 rapazes criativos, uma bateria e um… bem, um óvni? não, não é um óvni porque não voa, então, se não voa e faz este som espectacular será um ómni?, sim, sim um ómni, um Objecto Musical Não Identificado.

É a segunda vez que os apanho e, infelizmente, não os apanho nas melhores músicas mas, mesmo assim, é música e da boa. Tenho que encontrar este ómni, parece ser fácil de tocar, pelos menos um dos elementos do duo toca aquilo sem esforço, com prazer, quase em transe, como se se tocasse.

Haja criatividade e aja-se com musicalidade.
(Claro, o gajo que passou à frente da cámara com a saquinha Lidl matou-me o vídeo)


quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Hei-de amar uma pedra

Como já tive oportunidade de dizer, Antonio de Lobo Antunes é um dos melhores escritores do nosso tempo. Se tivesse que fazer uma comparação com Saramago, diria que este, Saramago, é um senhor de grandes ideias, veja-se por exemplo como começa o seu Intermitências da morte, em que “no dia seguinte ninguém morreu”, e como acaba o mesmo livro, em que, pasmem-se, “no dia seguinte ninguém morreu”, e diga-se, grande imaginação!, e poderíamos continuar com o seu Ensaio sobre a lucidez em que não poderia começar de melhor do que um “Mau dia para votar”, como se houvesse em Portugal algum bom dia para votar quando se analisam as aberrações que o bendito ócio promove e encarrega de nos governar, bem, como estava a dizer, se tivesse que fazer a comparação com Saramago, diria que este, ALA, ALA de António de Lobo Antunes e não ALA de Alá nem de Alibábá, é um grande escritor, um dos maiores escritores do meu tempo, enquanto por aqui andar. A forma como o seu Cús de Judas foi construído, o seu segundo, livro não cú porque cú mesmo com silicone só se tem um, não deixa margem para dúvidas nem muito espaço para qualquer avanço ou progresso literário, porquê, porque é um livro prefeito nas frases, nos parágrafos, nos capítulos, perfeito literariamente, literalmente, é literatura da melhor e pronto. Já Saramago é mais ideias o que é muito bom uma vez que a maior parte do povo português, quer viva dentro ou fora de portas, e por mim falo, é mais bolos, bolas literárias ou bolas desportivas, diárias, para agravar a situação.


Estou a ler o Hei-de amar uma pedra por causa do título e porque haveria que entrar por algum lado, e, tenho a certeza, que os verdadeiros críticos literários iriam dizer-me, Hei-de amar uma pedra?, olha, rapaz, “Não entres tão depressa nessa noite escura” e lê-lhe antes o “Livro de Crónicas” ou o “Segundo livro se crónicas” que é mais para a tua idade. Mas eu sou uma pessoa de ideias fixas, e continuo a ler o Hei-de amar uma pedra. Confesso que está a ser difícil. Confesso que, como o livro é grosso e está a dar para muitas viagem e algumas meias horas de cada uma das minhas meias-noites, às vezes chego a pensar que o ALA ou a gráfica se enganou no título. Este livro, desconfio, nunca se chamou Hei-de amar uma pedra, e, porque não o entendo, acho que antes do engano na impressão o verdadeiro título era “Acabei de fumar uma pedra”, um calhau dos grandes, diga-se. Este livro está a ser pesado. Depois conto-vos.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Nina

E os teus olhos olharam-me pela última vez, pintados de um adeus triste, de um até qualquer dia eterno, de uma gratidão sem medida. Disseste-me adeus como dizem adeus alguns dos mais extraordinários seres humanos e esperaste que eu te desaparecesse no escuro da noite a formar-se cá fora à mesma velocidade com que avançava o escuro arterial do teu coração. Amei-te como se amam as pessoas e, esta minha mistura de amor e cobardia, esta má formação congénita que trago presa à alma em cada um dos meus renascimentos não me fez capaz de te ver partir. Fugi como sempre fujo, fugidiamente. Por isso, quando me olhaste de olhar vidrado de dor e sufoco, sabias com uma intuição canina que aquele era o momento final e, num esforço derradeiro, paraste a aflição que te ruía o coração morto por partir e transformaste para sempre o meu isolamento na mais pura das solidões da mesma forma que a melhor das alquimias transforma qualquer elemento no mais puro dos oiros. Se pudesse inverter o fluxo do tempo com a mesma facilidade com que um piloto inverte o fluxo propulsor de um avião adormeceria contigo aquela noite para que me abandonasses com a ideia de que te amei sem exigências como se deveriam amar as pessoas, amei-te como se ama a natureza, sem palavras, de coração completo, aberto, sem nada para te ocultar. Vi-te nascer e andei contigo ao colo, vi-te viver e esses momentos ajudaram o movimento rotacional dos imensos mundos que trago como tu trazias cá dentro, não te vi morrer e tu, com a mesma hipersensibilidade com que sabias que aquele momento em que nos olhámos seria o último, tinhas a certeza desde que nasceste de que eu não teria a coragem de te ver morrer. Sei que me perdoaste logo na sabedoria ingénua dos teus primeiros meses, mas, mesmo assim, sob todo esse teu perdão, este é o preço que agora pago por não ter dado os meus braços à dor de te ver partir, é esta a imagem dos teus olhos saliente curvando as extremidades tristes para o chão húmido da tua respiração forçada, da mesma forma que os velhos fazem vénias doloridas à gravidade ou à bengala, que agora lateja dentro de mim, são esses olhos que em vida com toda a vida queriam falar sobre as sensibilidades e os mistérios que transportavas contigo desde pequenina que agora me olham abandonados para sempre, tristes, tristes como um obrigado mútuo pelo que fomos e pelo que a natureza já não nos permite voltar a ser, triste como um sem abrigo que chega ao final da noite sem ter onde se abrigar, tristes com quem vê na areia a vida a fugir-lhe por entre os dedos. Tristes tristes. É esta a obra que sem querer plantaste cá dentro, de mim e de outras tantas pessoas. Obrigado por teres feito parte da minha vida, obrigado pelos sábados madrugadores em que pacientemente ouviste enquanto passeávamos quase de mão dadas todas as histórias absurdas que sempre tenho para contar. Obrigado por teres existido Nina… Todos os trovões irão trazer-me de vota os teus medos, os medos mais sapientes.


Não morrerei sem entender que mal te levou.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Fácil

Tu és fácil de me perder.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Só queria fazer um aviso...

Só queria avisar os mais desatentos que hoje faço anos. Venha daí os parabéns se faxabor!

domingo, 8 de novembro de 2009

5 minutos

Desço para cumprir a minha rotina dos domingos, saco de roupa numa mão e os detergentes e amaciadores na outra. Chegados à sala das máquinas, eu a roupa e os detergentes, verificamo-la ocupada. À espera de a desocupar está uma senhora assim-assim, com idade incompreensivelmente compreendida entre os 27 e os 30, assim-assim dizia, um tudo nada nada de especial, das que passam incógnitas pela vida, Is it finishing, pergunto, a kind, responde ela, a kind, questiono eu, a kind of what, continuo só em pensamento, Well, it will take like 15 to 20 minutes, Ah, ok, so, I will come back later, termino e saio, deixando o saco da roupa e os detergentes a marcarem lugar.
Isto dos minutos tem um tremendo impacto na vida das pessoas, minutos feitos de segundos que influenciam decisões tomadas em milésimos de segundo. Se a senhora que passa incógnita pela vida tivesse dito que a máquina terminaria o ciclo em 10 15 minutos, eu, tenho a pura certeza, iria esperar, assim, como referiu 20, decidi ir dar uma volta a ver se encontrava uma padaria aberta. Como disse, 10 15 minutos seria um tempo suportável e onde facilmente conseguiria manter uma conversa assim-assim. E então fui. Ao passar por uma igreja vejo pessoas aos grupos com aspecto de portugueses. Nunca me engano, mesmo nos aeroportos é dificil de identificar quem são os portugueses. Há qualquer coisa de singular neles. Nunca me engano. Estes grupos também eram de portugueses à saída da missa. Pergunto a um grupo de 3 senhoras se eram portuguesas, e elas dizem que sim, que eram que tinham ido à missa e que havia missa sempre ao meio dia menos um quarto e catequese também e que se eu quisesse ir seria melhor ir apresentar-me ao padre, e que há grupos de portugueses em Frankfurt. Enquanto falavam olhava para elas olhos nos olhos para não me distrair com os possíveis bigodes. Estas não tinham, acho, eu não lhes tirei os meus olhos dos seus olhos. Depois, despedi-me e vim colocar a roupa a lavar na máquina. A jovem assim-assim já não estava lá e a sala tinha o aspecto de vazio igual ao momento em que ela lá se encontrava. E foi assim, mais um fim-de-semana. No próximo fim-de-semana já sei o que vou fazer, vou à missa das 11:45, e depois, dependo do ambiente, decido se fico para a catequese. E é assim que 5 meros minutos determinam a vida de uma pessoa. Se tivesse ficado a falar com a jovem que passa incôgnita pela vida a esta hora estaria completamente desinformado a respeito dos horários das missas.

There is a light that never goes out



Take me out tonight
where there's music and there's people
who are young and alive

The Smith

Prozac

João Pereira Coutinho diz, Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja a mamar forte no Prozac. É a velha história da cenoura e do burro: quanto mais temos, mais queremos, E referia-se às crianças que, hoje em dia, são criadas como potros numa pista de competição. E não me admira nada a mim! Se olharmos, e não precisamos de ir muito longe, para os fluxos humanos em Portugal, eles, que aparentam ser diversos e visarem direcções completamente oblíquas, seguem afinal princípios comuns e, fatalidade das fatalidades, acabarão, todos, nesse lugar onde se mama forte no prozac. Porquê? Porque a necessidade é sempre a mesma e a ambição é sempre desmedida. O querer ter mais do que… Sendo o “do que” ainda mais fatal e condicionador do que o “querer ter mais”.
Primeiro compra-se uma alta-fidelidade porque o rádio da casa dos pais faz um barulho estridente, brinca-se com ela até à exaustão e até ao ponto em que o som, só por si, passa a não chegar, e vem a televisão, enorme, que se liga à alta-fidelidade e se obtém, quase, um ambiente de cinema. E pensamos que atingimos já, aos 26 28 anos, a máxima satisfação e realização que a sociedade exige ao ser humano, porque nenhum vizinho consegue igualar em som aquilo que dentro do quarto possuímos, mas, de repente, começamos a sentir que o quarto na casa dos pais é pequeno para tão grande ambiente cinematográfico e começamos a procurar uma casa para colocar a alta-fidelidade e a televisão. E chegamos à conclusão que esse espaço cinematográfico só se consegue com a entrada de um sócio, e começamos a namorar mais a sério o negócio. E a natureza oferece-nos sempre o que procuramos e então encontramos o tal sócio com gostos e conhecimentos idênticos. E casamos em favor da cinemateca que entretanto vamos mudando para o novo espaço. Então, agora que o público é o dobro do que era inicialmente na casa dos pais, o cinema começa a ficar ultrapassado e com o que se conseguiu juntar de um casamento, renova-se o material, para melhor, muito melhor, a televisão passa a ser um plasma 2 por 2 e o som, estéreo, já funciona sem fios. E pensamos mais uma vez que agora sim, que agora estamos naquele ponto muito perto da perfeição, e passamos fins-de-semana infindáveis a ver todos os filmes que há para ver e a ouvir todas as músicas que há para ouvir, sentados num mesmo sofá, ainda agarradinhos. Passa um ano, às vezes 2, até que o “agarradinhos” começa a dar lugar àquele desconforto provocado por aquilo que os ingleses chamam de booring e nós chamamos de seca. Aquele ambiente que era perfeito porque era completo e porque ninguém na vizinhança tinha conseguido fazer melhor, começa a dar lugar ao desconforto do falta qualquer coisa neste silêncio de cinemateca e nestas nossa conversas de mudos. E então, quando já não há mais para inovar, quanto toda tecnologia atingiu o limite, começa a pensar-se ter um filho para preencher o vazio que a alta-fidelidade já não consegue preencher. E então vem o filho, a mais singela extensão biológica da alta-fidelidade, e, como antes, também agora e depois, essa renovação da alta-fidelidade, essa extensão, esse filho, tem que ser melhor do que tudo o que há no bairro. E esses pais mentalizam-se disso e começam a investir na alta-fidelidade agora meio por meio electrónica e biológica, a tentar aperfeiçoar-lhe as áreas que, para eles, devem ser aperfeiçoadas. E temos esta geração de vivos mortos que nascem já frustrados por falharem nas áreas em que os pais queriam que eles triunfassem. Daqui a 20 anos estaremos todos a mamar forte no prozac, para esquecer a frustração, uns de não terem conseguido ser a alta-fidelidade em que os papás investiram, outros, os papás, por não conseguirem criar a melhor alta-fidelidade do bairro.
Eu pensarei sempre duas vezes se realmente quero ter uma alta-fidelidade lá em casa.

sábado, 7 de novembro de 2009

Porque eu o mereço

Dois ovos e um tomate, dois ovos e um tomate porque dois tomates e um ovo, caso fosse, seria para ser servido antes, durante a noite, noites menos solitárias, queijo mozzarela, leite com café, leite com cereais, pão, geleia, pão com geleia, iogurte, ice tea, fruta, queijo francês, um queixo português e o White do Maximilian Hecker a rodar em fundo, um pequeno-almoço de rei, um grande pequeno-almoço de mim que às vezes sou grande para mim que às vezes sou tão pequeno.

Porque eu o mereço.

White
I can’t cry when it hurts me so

There’s no light in my eyes
I can’t leave when you take those pictures
Of me with my pale and sad face

Oh when will the light fill my eyes
Will your hands touch my cheek
And everything is white?

Maximilian Hecker - Infinite Love Songs
(
Pena que não tem vídeo official)

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Coisas bonitas

Não, ainda não estou aí, nessa estratosfera da abstracção e do conhecimento. Tenho coisas bonitas para te dizer, bonitas bonitas bonitas, se visitadas do ângulo da mesquinhez humana, da minha mesquinhez, quando observadas de outros ângulos, com ou sem prismas, ângulos que confirmam toda a teoria da relatividade, daí, desses pontos sem ponto, não posso afirmar o quão bonitas serão as coisas bonitas que tenho para te dizer. Tu és um complexo de ângulos sem prismas, não és?